segunda-feira, 25 de julho de 2011

A geografia da violência - Autor examina conflitos e mudança do clima

Autor examina conflitos e mudança do clima

Trópico do Caos. Assim o jornalista Christian Parenti chamou a faixa que circunda a Terra entre os trópicos de Câncer e Capricórnio, e onde nações já desestabilizadas são particularmente vulneráveis aos efeitos devastadores de padrões do clima cada vez mais extremos. Seu livro começou como uma investigação sobre o Afeganistão, mas acabou aumentando sua abrangência e resultando em Trópico do Caos: Mudança do Clima e a Nova Geogrqafia da Violência (Tropic of Chaos: Climate Change and the New Geography of Violence). Eis um resumo da entrevista concecida por Parenti ao Grist:

"Eu tinha um contrato para escrever um livro sobre o Afeganistão, mas achei que já havia livros sobre o assunto se você quisesse ler. Mas não havia um livro sobre como a mudança do clima vai criar violência, e já criou. A mudança do clima funciona junto com outros problemas pre-existentes, particularmente o legado da Guerra Fria, e o legado da reestruturacão econômica neoliberal. Estas duas forças combinadas criaram um cenário para a crise, em grande parte do sul do globo. E agora chega a mudança antropogênica do clima, espalhando uma única e intensa destruição, au aumentando a intensidade dos conflitos existentes. 

"A Guerra Fria criou um excesso de armas no sul do globo. Criou infraestruturas de contrabando e assassinatos, deixou para trás todos os tipos de estratégias de táticas de guerrilha assimétrica. Em países que estavam na linha de frente representando os poderes da Guerra Fria, a paisagem está tomada de bandos de homens armados cujo negócio é traficar armas e drogas, ou diamantes de sangue. E o legado da reestruturação econômica e do neoliberalismo, através de programas de ajustamento estrutural do FMI e do Banco Mundial, aumentou a iniquidade e a pobreza. Há uma coisa que os sociólogos chamam de privação relativa. É claro que ela não causou por si mesma a instabilidade e a violência. Mas a experiência em relação ao que era e ao que deveria ser, o que seria justo, está definidamente relacionada com a rebelião. 

"No Afeganistão, a seca está forçando as pessoas a produzir papoulas. De um lado, são atacadas pela Otan, os EUA e o governo afegão.. De outro, são protegidas pelo Talibã. Elas estão fazendo isto porque as papoulas são reistentes à seca. Elas usam um quinto da água usada pelo trigo. E o país passa pela pior seca de sua história. E esta seca segue os padrões da mudança do clima. 

"No caso da primavera árabe, o Egito, por exemplo, viveu por 30 anos sob um a cleptocracia policial. Por que as pessoas não se rebelaram no ano passado, ou dois anos atrás? Uma das coisas que aconteceram foi que o preço dos grãos quase dobrou no ano passado. O preço do milho subiu 91% e o do trigo, 83%. Os preços do milho foram afetados pelas enchentes no Canadá, nos EUA e na Austrália. A do Mar Negro, a pior na antiga União Soviética em um século, afetou muito a colheita de grãos na Ucrânia, Rússia e Casaquistão. O maior exportador do mundo, a Rússia, declarou uma proibição total de exportação. O maior importador mundial de trigo é o Egito. Os egípcios gastam 40% de sua renda com alimentos. Estas rebeliões sempre envolvem muitas coisas, mas a mudança do clima é crucial. 

"Não acho que este tipo de instabilidade esteja no horizonte nos EUA. O que está no horizonte americano, como resposta a crises causadas pela mudança do clima, é o aumento da xenofobia, da vigilância, da repressão e um endurecimento do estado. Isto está em curso nos últimos 30 anos, e não está articulado como resposta à mudança do clima, mas pode-se perceber que algumas das pressões são ligadas à imigração, em parte causada pela mudança do clima. Nós precisamos agir coletivamente. Ou os EUA serão um estado mais repressivo ou um estado que se comprometa com o planejamento econômico, a distribuição econômica, um New Deal verde, uma economia mista - basicamente um keynesianismo verde.

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