Por Tânia Martins
Não desvalorizando outros oásis encravados no Piauí, mas a Serra Vermelha é sim, o mais importante e valioso tesouro natural dos piauienses. Cheguei a essa conclusão ouvindo por dois anos pesquisadores, ambientalistas, o povo do lugar, além de leituras de relatórios, nota técnica e leis. A área, segundo levantamento do Ministério do Meio Ambiente, é prioritária para a conservação por abrigar uma das maiores biodiversidade do interior nordestino.
No levantamento prévio realizado por técnicos do ministério foi encontradas espécies de animais ameaçados de extinção como a onça pintada jacutinga, jacucaca zabelê, tatu canastra, tamanduá-bandeira, sagüi da serra.... O relatório da equipe observa que as nascentes do Rio Gurguéia afloram no topo da serra e que “a região apresenta rica história arqueológica e climática e os elementos da fauna e flora, característicos da Amazônia são testemunhas de épocas em que o clima no sertão do Brasil proporcionava o crescimento de florestas úmidas”.
Falam também de um grande ecótono onde se encontram os biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Os opositores costumam dizer que a Mata Atlântica não está na Serra Vermelha, no entanto, a Lei que protege a vegetação considera sua presença na área chamando-a de “enclaves florestais nordestinos”.
O respeitado Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, reunido em 22 de fevereiro de 2006 alertou ao MMA que agilizasse a proteção da região oficializando a criação de uma unidade de conservação antes que desapertasse a cobiça de empresas interessadas em seus recursos. A indústria do carvão, no caso a JB Carbon, foi mais esperta e já havia conseguido autorização de quem deveria proteger as matas, IBAMA e Secretaria de Meio Ambiente-SEMAR, para destruir tudo e lucrar muito vendendo suas árvores mortas para manter vivos os fornos das siderúrgicas brasileiras.
Choveram protestos e Ações judiciais que levaram a paralisação do crime. Entrou em cena a força da ministra Marina Silva que reconheceu o valor biológico e patrimonial da Serra Vermelha. Foi um alívio quando se soube que ela havia autorizado a criação do Parque Nacional Serra Vermelha, principalmente pelas futuras gerações e pelo aquecimento do planeta.
Infelizmente, a ministra não agüentou a pressão dos abutres deixando o ministério. Era tudo o que queriam os destruidores da última floresta do semi-árido nordestino. O bando logo armou um esquema para convencer o midiático novo ministro, Carlos Minc, a devolvê-los a Serra Vermelha. Representando os interesses da JB Carbon, o governador Wellington Dias foi ao ministro pedir proteção para os inimigos predadores da floresta. Soa muito estranho o comportamento da autoridade máxima do Estado que, deveria sim, defender o rico patrimônio natural do povo do Piauí, incluindo seus descendentes que virão.
Falam que a JB Carbon, já desgastada pelo o fracasso do projeto Energia Verde, embora clandestinamente tenha continuado devastando a mata do Chapadão do Gurguéia, resolveu que vai mudar o foco da destruição e partir para montar uma termoelétrica movida a árvores dos biomas presentes. Contam nos bastidores do IBAMA que a empresa se compromete em sair catando as árvores da Mata Atlântica para deixá-las em pé, respeitando a Lei, e engolir as do Cerrado e da Caatinga que pra eles só têm valor quando sai dos fornos como carvão.
Sobre o assunto, disse o professor Cineas Santos: “não se preocupe irmãzinha, a História há de puni-los. Já Niéde Guindon comentou: “não tem problema, eles só vão acelerar o processo de desertificação da região que virá mais rápido”. Acrescento as falas trechos do poema de Elio Ferreira “O negro fala da Serra Vermelha”
Serra Vermelha – meu Paraíso Verde...
Oh, Deus da chuva, dos rios e da floresta!
Oh, Deus dos homens, dos bichos e da natureza!
A mata virgem virando carvão vegetal e fumaça...
A bicharada em alvoroço sem ter pra onde ir:
Corre onça, maçaroca, macaco e tatu.
Corre veado, anta, cutia e caititu.
Corre camaleão, cobra, gambá...
Voa garça, pato, marreco, Chico preto e arara azul...