segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Serra Vermelha em Perigo

Governo manobra para manter projeto de carvão em Serra Vermelha. Esquema montado para conseguir R$ 150 milhões do governo para o MMA escondeu do Congresso crimes como grilagem de terras

Tânia Martins, de Teresina

13 de Dezembro de 2010

O novo enredo do caso Serra Vermelha, a última floresta do semi-árido nordestino, no Sul do Piauí, aponta para uma vitória dos políticos e empresários destruidores da natureza. Na última semana, uma comissão mista (Senado e Câmara) do Congresso Nacional aprovou crédito suplementar para o Ministério do Meio Ambiente, de R$ 150 milhões. Teoricamente o recurso seria destinado a pagamento de fazendeiros, políticos e empresários que dizem possuir terras nas proximidades do Parque Nacional Serra das Confusões, para ampliar o Parque Nacional Serra das Confusões. Mas, infelizmente, o sonho dos ambientalistas de salvar uma grande parte da vegetação nativa, caracterizada como um ecótono entre Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, vai ficar de fora. É o trecho de floresta que engloba o projeto Energia Verde.

"A beleza da biodiversidade contrasta com uma ocupação predatória arrancando a floresta para fazer carvão. Um crime ambiental, esta é a verdade!"
Biólogo Francisco Soares



O projeto foi montado na Secretaria Estadu­al do Meio Ambiente do Piauí (SEMAR), com o apoio do ex-governador Wellington Dias (PT) e a participação institucio­nal do MMA, Ibama e ICMBio.
Dia 25 de novembro, durante a reunião do Conama, em Brasília, o biólogo Francisco Soares, presidente da Fundação Rio Parnaiba (Furpa), disse pessoalmente ao presidente do ICMBio, Rômulo Mello, que o Instituto havia prestado um des­serviço à biodiversidade brasileira quando defendeu a permanência da empresa JB Carbon, na Serra Vermelha.
Para Francisco Soares, essa área é a mais rica do ponto de vista biológico, tudo comprovado por uma série de estudos técnicos e científicos. "No entanto - explica Soares - contrariando inúmeros relatórios técnicos de profissionais do próprio MMA e do ICMBio, através da Secretaria de Biodiversidade, o Instituto praticou uma irresponsabilidade dessas".

Moção de repúdio
Ainda durante a reunião do Conama, o representante da FURPA-Fundação Rio Paraíba apresentou uma moção de repúdio ao ICMBio e conseguiu a assinatura de todos os representantes da sociedade civil. Em sua resposta, o presidente Rômulo Melo tentou se justificar alegando que aprovou a permanência da empresa JB Carbon porque existe uma indefinição em relação à existência do bioma Mata Atlântica na região. Porém, sua tese foi derrubada em seguida por João de Deus, um técnico do próprio Ibama, que confirmou a presença da Mata Atlântica no mapa oficial do IBGE.
"Conseguimos desmoralizá-lo publicamente num espaço que reunia representantes de entidades ambientalistas do país inteiro", reafirma Francisco Soares, que diz ter ficado satisfeito com o resultado, mas muito decepcionado com o presidente Rômulo Melo que não conseguiu justificar a amplia­ção do Parque Nacional Serra das Confusões.
"Pelo mapa desenhado pela Semar está evidente a proteção à empresa que pode destruir um dos trechos mais importantes para a conservação da biodiversidade local". E mais grave de tudo isto, denuncia o biólogo: "As fazendas não valem R$ 150 milhões.
Os protestos não param. A comunidade ambientalista do Piauí está se movimentando para tentar impedir a consolidação dessa transação. ?Estamos pedindo uma intervenção federal no caso, inclusive por ser a área foco de grilagem de terras públicas?, informou o representante da Fundação Rio Parnaíba.
"Esse é um momento importante, pois a Polícia Federal está investigando a grilagem de terras na região e já realizou, inclusive, a prisão de dez pessoas envolvidas em casos de grilagem, entre eles políticos e até um juiz", garantiu o representante da Furpa.

Fonte: Folha do Meio Ambiente

Nenhum comentário: