Autor: Fabiano Ávila
Toda a vez que ocorre algum fenômeno climático extremo, como secas prolongadas ou tempestades, sempre vem a dúvida se são eventos causados pelas mudanças climáticas. Mesmo as declarações de especialistas costumam ser vagas nessas ocasiões, com opiniões do tipo: “existem indícios” ou “é muito cedo para afirmar”.
Por isso merecem destaque dois estudos publicados na edição desta quarta-feira (16) da revista Nature. Um deles afirma que o aumento das chuvas registrado depois de 1950 se deve com certeza ao aquecimento global e que isso pode ser relacionado à ação do homem. O outro liga a enchente do ano 2000 no Reino Unido com as emissões de gases do efeito estufa após a revolução industrial.
“Os modelos climáticos melhoraram muito nos últimos dez anos. Nós podemos agora dizer com confiança que o aumento da intensidade das chuvas nas décadas finais do século XX não pode ser explicada sem levarmos em conta as emissões de gases do efeito estufa”, afirmou Gabriele Hegerl, da Universidade de Edimburgo e autora do estudo “Human contribution to more-intense precipitation extremes”.
O trabalho, realizado por pesquisadores canadenses e britânicos, observou a frequência e a intensidade das chuvas no Hemisfério Norte durante o período de 1951 a 1999.
Apesar de existirem variações de ano para ano, no geral as tempestades foram ficando mais comuns com o passar do tempo. Segundo os modelos computacionais utilizados, nada explica o porquê disso além da possível mudança na composição da atmosfera.
“Nós conseguimos estabelecer uma ligação entre a influência antropogênica e as transformações na precipitação. O que ainda não podemos quantificar é o tamanho dessa influência”, explicou Xuebin Zhang, da agência governamental canadense Environment Canada.
O estudo também aponta que os modelos computacionais mais utilizados atualmente subestimam o quanto cresceu a quantidade de chuvas no planeta.
Fator Homem
Já a pesquisa “Anthropogenic greenhouse gas contribution to flood risk in England and Wales in autumn 2000” utilizou simulações climáticas para avaliar as enchentes no Reino Unido em 2000, ano que teve os meses de outubro e novembro mais úmidos já registrados desde 1766.
Algumas dessas simulações foram rodadas excluindo as emissões geradas pela humanidade. Dessa maneira, foi possível descobrir que o “fator homem” teria dobrado a possibilidade desses eventos acontecerem.
“Para termos certeza dos dados, nós rodamos as simulações milhares de vezes”, salientou Pardeep Pall, líder do estudo.
Essa tarefa só foi conseguida porque mais de 50 mil pessoas emprestaram seus computadores para a pesquisa, participando através do site www.climateprediction.net. O que demonstra como a população em geral já está engajada na luta contra as mudanças climáticas
Segundo um dos autores do estudo, Myles Allen, da Universidade de Oxford, essas pesquisas serão úteis para o desenvolvimento de projetos de mitigação e adaptação, podendo ainda facilitar a consolidação de acordos internacionais.
“Uma base científica sólida que demonstre com clareza a influência do homem no clima irá convencer os países mais ricos a ajudar as nações mais pobres e vulneráveis”, disse.
Apesar de estar mais concreta do que nunca a hipótese de que o homem é um grande fator nas mudanças climáticas, os próprios pesquisadores alertam que ainda existem muitas incertezas.
“O que queremos é que mais centros de pesquisas reproduzam nosso método e que os dados sejam compartilhados para que finalmente tenhamos uma conclusão”, afirmou Allen.
Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais
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